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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Mira e anda

        Eu tenho uma mania cansativa de achar que  tudo o que eu escrevo precisa ser manual para só depois ser digital. Às vezes me sinto antiquada por não largar da caneta e do papel. Mas eu gosto que meus pensamentos sintam as curvas das letras à medida que eles fluem. Preparar uma letra e uní-la a outra até formar uma palavra,uma frase,um parágrafo,um texto. Isso condiz com minha alma. Ela não pode ser digitalizada sem intermédios. Os pensamentos e sentimentos fluem nas palavras escritas como as ondas derrapam sobre a areia ; como o vento ocupa o (des)ocupado ; como o sangue corre pelas vênulas ; como o sorriso e as lágrimas se espalham pelo rosto.
        A curva do "a" e a curva do "o". A sinuosidade do "s". A simplicidade do "c". A união do "e". A carência do "i". O concretismo do "t". A profundidade do "u". A estranheza do "x".Desenhar todas essas características permite-me desenhar meus sentimentos. Transparecer meus atordoados pensamentos. Não só transparecer. Organizar. Mas organizar não no sentido de arrumar e sim no sentido de esclarecer,que me leva a conhecer.
        Quem não sabe o que sente,escreve. Escrevo justamente por isso. Conhecer uma pessoa e tão rapidamente sua imagem já aparecer todas as vezes que você fecha os olhos não pode ser um bom sinal. Ou pode? Como pode um rapaz adquirir tal poder sobre minha mente em tão pouco tempo ? Será que o tempo importa? Será que ele é mesmo relativo? Eu não sei,por isso que escrevo e tento descobrir como esse sentimento se manifesta de forma tão metafísica. E porque mesmo que eu não queira que ele exista ( como diz Tom Zé,amor é medo e maravilha) ele ainda existe,persiste,existe. Ah,eu tô muito cheia de perguntas e muito é vazia de respostas.
        Será que todo amor é só pergunta? Vejam só,estou novamente a perguntar. E perguntas angustiam,principalmente as sem resposta. Não vou mais perguntar. Vou apenas contemplar o que eu já contemplo. E admitir que eu contemplo. Eu posso dizer que te acho bonito até de olhos fechados. Que consigo te enxergar na presença e na distância. Que a luz que irradia seu ser ilumina o meu sorriso. Que a sua inteligência me põe de encontro ao sol. Que seu engajamento político me faz acreditar que existe solução para a humanidade. E que você me faz acreditar que todas as boas músicas do mundo foram escritas para você. Pronto,agora me sinto discípula de Reginaldo Rossi.
         Acho que já devo ter muito divagado. Perdido meus pensamentos no espaço. Contudo,eu consegui meu objetivo: mirar no desconhecido e conhecê-lo. Porém,o conhecimento que procuro ter sobre os meus próprios sentidos e sentimentos ainda me parecem distantes. Assim sendo,vou andar até eles. Andar. Correr não adianta ,eu perderia toda a paisagem. Andar.

                                                                                                    Maria Bastos
       

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